... a empresa privada Celera apareceu à beira de derrotar as equipes científicas combinadas do resto do mundo com o objetivo de sequenciar o genoma humano. A abordagem da Celera era menos rigorosa, mas mais rápida que a do Projeto Genoma Humano, e por uma razão muito compreensível: o objetivo da Celera não era avançar na ciência, mas vencer a corrida por qualquer meio justo ou sujo e, assim, reivindicar o que teria sido o conquistador mais surpreendente prêmio na história da humanidade. Se a Celera tivesse vencido a corrida para sequenciar o genoma e tivesse apresentado patentes de forma agressiva, é concebível que uma pequena empresa pudesse reivindicar royalties sobre praticamente todo o progresso médico até então. Não, eles poderiam ter reivindicado interesse de propriedade no futuro evolutivo da raça humana.
Não importa que a proposição seja mais ridícula do que a reivindicação de uma empresa privada à lua. A ameaça era real e os cientistas estavam assustados.
Esse estado de coisas foi remediado pelos esforços heróicos de um estudante de biologia da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, outrora obscuro, chamado Jim Kent, que, ao longo de 40 dias de codificação com tanta fúria que ele literalmente teve que mergulhar os pulsos em banhos de gelo todas as noites escrevia um programa para montar e tornar público o mapa do próprio projeto do genoma humano. Ele concluiu a tarefa um dia à frente da Celera.
O ataque furtivo de Kent venceu o Celera em seu próprio jogo praticamente sozinho, em um feito que merece se tornar tão icônico quanto o de Watson e Crick.